O Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T) é baseado no modelo japonês. No entanto, os especialistas envolvidos com a questão optaram por fazer algumas mudanças em relação ao padrão usado com referência: aumentaram a taxa de compressão dos arquivos, para que eles carreguem mais informações, e também optaram por utilizar um sistema de interatividade brasileiro, o Ginga.
Desenvolvido em parceria pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), esse sistema será o responsável por diversas qualidades associadas à TV digital, como interação em tempo real com programas da televisão e possibilidade de compras on-line de produtos anunciados na telinha.
Luiz Fernando Gomes Soares, professor titular da PUC-Rio e um dos desenvolvedores do Ginga, acredita que os primeiros conversores digitais chegarão ao mercado sem o sistema brasileiro de interatividade. Mas, como se trata de um momento de disputa entre os fabricantes, pode ser que os lançamentos guardem algumas surpresas. "As empresas que tiverem esse diferencial logo de cara provavelmente ficarão caladas até o lançamento, para não exporem seus produtos."
"Os fabricantes devem usar esse primeiro momento para sentir o que os consumidores querem em seus conversores digitais. Eles verão o interesse pelo produto e sua recepção no mercado para saber se as pessoas realmente buscam a interatividade. Nenhuma empresa está disposta a arriscar demais e perder dinheiro", disse Juliano Castilho Dall'Antonia, diretor de TV digital do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD).
Por se tratar de algo completamente novo, os especialistas envolvidos com a TV digital não sabem ainda até onde chega a interatividade na TV -- que será criada pelas emissoras e também pelas agências de publicidade.
A Rede Globo, por exemplo, já vem testando essa alternativa nos serviços de TV por assinatura Net e Sky. Na Copa do Mundo, os telespectadores dos canais de esportes puderam usar seus controles remotos para obter mais informações sobre os times que estavam em campo. "Nossa experiência mostra que, agora, o grande negócio é a oferta de informações complementares, que enriquecem a transmissão. Essa alternativa dá mais profundidade aos programas e também informações adicionais ao telespectador", disse Carlos Fini, gerente de manutenção e tecnologia da TV Globo de São Paulo.
No futuro, as possibilidades são grandes. Soares, desenvolvedor do Ginga, acredita que a interação estará presente nos programas de TV e também nas propagandas. Quando o ator de um filme exibir um produto, por exemplo, o telespectador terá informações na tela sobre onde comprá-lo, quanto custa e suas especificações técnicas.
Outra hipótese é a de o telespectador responder a testes oferecidos na TV. Se ele estiver assistindo a um programa sobre saúde, por exemplo, poderá responder a perguntas que mostrarão se ele está tendo os devidos cuidados e onde pode melhorar. Nesse cenário, a grande ferramenta de interatividade com a televisão será o controle remoto.
Diante de tantas hipóteses, o desenvolvedor do Ginga faz uma declaração que mostra a abrangência de possibilidades dessa nova tecnologia. "Tenho certeza de que nada será como as hipóteses que estamos levantando. Quando a ferramenta de interatividade começar a ser usada, será tudo completamente diferente." Isso porque, afirma Soares, pessoas criativas vão produzir conteúdos muito interessantes, com os quais ainda nem imaginamos.
"Já existem muitas aplicações boas, mas deve demorar ainda algum tempo para a verdadeira revolução da interatividade na TV acontecer", afirmou Soares. É esperar pra ver.
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